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Crónica "Que futuro?"

O que habitualmente seriam sonhos, hoje, o que faz mover os jovens trabalhadores e estudantes é a necessidade e uma réstia de esperança num futuro risonho. Porém, o facto é que a realidade de hoje despreza a ingenuidade desses sonhos, fazendo com que muitos jovens vejam o seu futuro quase irremediavelmente hipotecado por uma conjuntura económica desfavorável ao emprego.
O assunto não é novo. Portugal e a Europa encontram-se hoje mergulhados numa angustiante crise económica, destruidora implacável de sonhos. Ainda assim, há quem heroicamente enfrente esta crise, esta austeridade da “ajuda” da Troika, estes cortes e mais cortes, continuando a tentar encontrar esperança num futuro pouco auspicioso. A situação é incomportável e perigosamente desmotivadora. Os números que nos chegam são aterradores: na zona Euro a taxa de desemprego jovem já é de 36,5%, senso que em Portugal é de 15,7%.
    Aos estudantes são-lhes retiradas as ajudas para suportar os estudos. Em contrapartida, pede-se aos jovens que invistam na sua formação para que o país se torne competitivo. Como é que é suposto haver estudantes motivados se só em propinas são exigidos, anualmente, cerca de 1000 euros; se, depois desse investimento, não existe nenhuma perspetiva luminosa no mercado de trabalho; se quando se reivindicam ajudas ao Governo a crise é a única justificação que é apresentada?
A crise… A crise “diz” que não há espaço para gente nova, com ideias, capazes de mudar o rumo do país. A crise destrói os sonhos dessa gente e o “Progresso” tão aclamado pelos governantes. Talvez a crise precise de um “vai-te embora!” para evitar que empresas públicas que dão prejuízo de milhões ao Estado continuem a indignar quem nada tem. Assim como os senhores grandes das também grandes empresas com fortunas nauseabundas a que chamam pudicamente de salário.
Está na hora de dar oportunidade aos méritos que saem das academias em detrimento de quem está comodamente “encostado” nas empresas, apenas a cumprir os serviços mínimos, e que não traz progresso nem valor ao país.
Quando ainda podem contar com a sorte, depois de enviar os imensos currículos, muitos jovens são convidados para estágios não remunerados ou mal pagos, até que um dia, ou são dispensados porque “esta crise toca a todos” ou cansam-se de trabalhar (quase) de borla em nome de um sonho. Genialmente, alguém lhes deu uma dica: Emigrem. Ou isso, ou uma caixa de um hipermercado, na melhor das hipóteses claro! E, ainda assim, muitas vezes são acusados de detentores de um currículo invejável e que a sua remuneração não pode ser suportada pela empresa. E eles acabam, assim por ir embora.
Já não se pode dizer “Sócrates” para explicar tudo, pois já não explica nada. A situação é agora, e é agora que precisa de ser mudada. A revolta vai crescendo quando nada é feito por aqueles que deviam apresentar uma solução. O cansaço e a falta de esperança vão retirando a força para lutar. Lutar por algo melhor, que esta geração já nem exige muito, apenas uma oportunidade. Querem acabar com a pieguice. Não há pieguice… Nem futuro.
Crónica "Que futuro?"
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Crónica "Que futuro?"

Primeira crónica

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